Versículo 5: “E, entrando Jesus em Cafarnaum, chegou junto dele um centurião, rogando-lhe.”
O centurião toma a iniciativa de se aproximar de Jesus, um ato notável para um oficial romano, que representava a opressão imperial. Isso sugere humildade e reconhecimento da autoridade de Jesus, talvez influenciado por rumores sobre seus milagres (Mateus 4:24). A abordagem direta, sem intermediários, reflete ousadia e confiança.
Versículo 6: “Senhor, o meu criado jaz em casa, paralítico, e violentamente atormentado.”
O centurião chama Jesus de “Senhor” (kyrie em grego), um termo que pode ser apenas cortês, mas no contexto de Mateus sugere reconhecimento da autoridade espiritual de Jesus. A descrição do sofrimento do criado (“violentamente atormentado”) mostra a gravidade da situação e a compaixão do centurião, que se preocupa com alguém socialmente inferior.
Versículo 7: “E Jesus lhe disse: Eu irei, e lhe darei saúde.”
A resposta de Jesus é imediata e direta, mostrando sua disposição de ajudar, mesmo um gentio. A expressão “lhe darei saúde” (ou “curarei”) reforça a autoridade de Jesus sobre a doença. Notavelmente, Jesus se oferece para ir à casa do centurião, algo que poderia ser considerado impuro para um judeu, indicando sua abertura a todos.
Versículo 8: “E o centurião, respondendo, disse: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas dize somente uma palavra, e o meu criado há de sarar.”
Aqui está o cerne da narrativa: a humildade e a fé do centurião. Ele reconhece sua indignidade, possivelmente por ser gentio ou por respeito à santidade de Jesus. Sua confiança na palavra de Jesus (“dize somente uma palavra”) reflete uma compreensão profunda da autoridade divina, algo raro mesmo entre os judeus da época.
Versículo 9: “Pois também eu sou homem sob autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu criado: Faze isto, e ele o faz.”
O centurião usa uma analogia militar para explicar sua fé. Como oficial, ele entende a cadeia de comando: sua autoridade é derivada de Roma, e ele espera obediência imediata de seus subordinados. Ele reconhece que Jesus opera em uma esfera superior, com autoridade sobre a criação, incluindo doenças. Essa analogia é poderosa, pois conecta a experiência humana do centurião à fé teológica.
Versículo 10: “E maravilhou-se Jesus, ouvindo isto, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tanta fé.”
A reação de Jesus é de espanto (ethaumasen em grego), um termo raro no Novo Testamento. A fé do centurião é destacada como excepcional, superando até mesmo a dos líderes religiosos de Israel. Mateus usa esse contraste para enfatizar que a fé genuína não está limitada à etnia ou à religiosidade formal.
Versículo 13: “Então disse Jesus ao centurião: Vai, e como creste te seja feito. E naquela mesma hora o seu criado sarou.”
A cura é instantânea e à distância, confirmando o poder da palavra de Jesus, conforme o centurião creu. A frase “como creste te seja feito” vincula a fé do centurião ao milagre, destacando a relação entre fé e resposta divina. O milagre não apenas restaura o criado, mas valida a fé do centurião perante a multidão.
Autoridade de Jesus: O texto enfatiza que Jesus tem autoridade sobre a criação, incluindo doenças, sem precisar de rituais ou contato físico. Sua palavra é suficiente, um sinal de sua divindade (cf. João 1:1-3).
Fé sem barreiras: O centurião, um gentio, demonstra uma fé que transcende as divisões culturais e religiosas. Mateus, escrevendo para uma audiência judaica, destaca que o Reino de Deus é acessível a todos que crerem, antecipando a missão aos gentios (Mateus 28:19).
Humildade: A atitude do centurião, reconhecendo sua indignidade, contrasta com a arrogância de muitos líderes religiosos da época (Mateus 23). A humildade é apresentada como uma porta para a fé autêntica.
Compromisso com o próximo: O centurião intercede por seu criado, mostrando compaixão por alguém de status inferior, refletindo o amor ao próximo ensinado por Jesus (Mateus 22:39).
Poder da palavra de Deus: A cura à distância sublinha que a palavra de Jesus é eficaz e suficiente, ecoando a criação no Gênesis, onde Deus fala e o mundo é formado.
Como alguém refletindo sobre esse texto, fico impressionado com a fé do centurião. Ele não apenas reconhece o poder de Jesus, mas confia plenamente que uma única palavra d’Ele é suficiente para mudar a realidade. Isso me faz pensar em como, muitas vezes, complicamos a fé com rituais ou dúvidas, quando o exemplo do centurião nos convida a uma confiança simples, porém profunda, na autoridade de Deus. Sua humildade também é desafiadora: em um mundo onde buscamos status e validação, ele se coloca como indigno, mas ainda assim se aproxima de Jesus com ousadia. Isso me lembra que a fé não depende de mérito, mas de confiança.
Além disso, o texto me toca pela inclusão. Jesus não hesita em responder a um gentio, alguém que, aos olhos da sociedade da época, estava fora do “povo escolhido”. Isso me faz refletir sobre como, hoje, podemos criar barreiras (sociais, culturais, religiosas) que excluem pessoas do amor de Deus, quando Ele está pronto para acolher a todos.
Por fim, a compaixão do centurião pelo seu criado me inspira. Ele não está buscando um milagre para si, mas para outro, alguém que talvez fosse ignorado por outros poderosos. Isso me desafia a interceder pelos que estão ao meu redor, especialmente aqueles que a sociedade marginaliza.
O encontro entre Jesus e o centurião em Mateus 8:5-13 é uma poderosa narrativa sobre fé, humildade e o alcance universal do Reino de Deus. O centurião, um outsider, se torna um modelo de fé que surpreende até mesmo Jesus, desafiando as expectativas culturais e religiosas da época. Como ser humano refletindo sobre esse texto, vejo nele um convite para confiar no poder de Deus, praticar a humildade e viver um amor que transcende barreiras. Esse episódio nos lembra que, independentemente de quem somos ou de onde viemos, a fé genuína nos conecta ao coração de Deus, que responde com graça e poder.